Oct 30, 2007

Na dúvida... desisto.

Dentro de mim existe um lugar inatingível por todos, um lugar melancólico e lúgubre, que me faz dispensar momentos que poderiam ser eternos e intensos.
Ultimamente venho contemplando minha insanidade, e a cada novo olhar encontro novas cicatrizes, algumas secas e outras que ainda latejam.
Observo que ao mesmo tempo em que amo, dou risadas, troco palavras, promessas, projetos, e tento dar o melhor de mim, a necessidade de retorno destes atos toma outra proporção. Posso citar como exemplo a regra física básica de que para cada ação há uma reação igual ou contrária e aí é que está o problema, as reações que venho recebendo são proporcionais as que estou emitindo, ou seja, não tão positivas como poderiam ser. Elas são minadas pelo meu vil estado de espírito.
Em algum momento de nossas insignificantes vidas é preciso decidir se vamos ou ficamos, e esta decisão sempre barra em meu poço inalcançável de melancolia, que acaba por si só tomando um caminho nem sempre desejado.
A sensação de não merecimento toma forma e atravessa como um raio meu breve estado de lucidez, e não me permite viver a realidade; é muito difícil ser racional com assuntos abstratos.
Por medo de sofrer, de não saber a exata realidade e o significado das coisas, acabo por abandonar algumas opções de escolha que a vida me apresenta. O medo surge, e é como um vírus, que ataca por completo a minúscula parcela de sanidade existente em meu corpo.
Meus sonhos se tornam uma seqüência de idéias vãs e incoerentes, das quais desisto antes mesmo de tentá-las.
Não sei se devo arriscar sentir algo tão intenso a ponto de me fazer perder o chão e cair.
Agora estou exatamente neste ponto, onde não vejo o retorno sonhado, mas ainda tenho a opção de escolher se fico ou se vou; talvez agora a melhor escolha seja a de desistir, e viver apenas a utopia da mudança.

Oct 21, 2007

Proust (carta a Antoine Bibesco)

"Agora que, pela primeira vez após esta longa letargia,
dirigi o olhar para os meus pensamentos mais íntimos,
percebo como tem sido vazia a minha vida
e vejo centenas de personagens para um romance,
e milhares de idéias me suplicam que lhes dê corpo,
como os fantasmas da Odisséia que rogam a Ulisses
um sorvo de sangue que os traga de volta à vida.”

Oct 10, 2007

Clarice Lispector

"Eu não escrevo o que quero, escrevo o que sou."

Oct 2, 2007

Localisations cérébrales

"Há meses reflito sobre a doença de refletir demasiadamente e estabeleci com toda a certeza a correlação entre a minha infelicidade e a incontinência da minha razão. Pensar, tentar, compreender nunca me trouxe nenhum benefício, mas, ao contrário, sempre atuou contra mim. Refletir não é uma operação natural e fere, como se revelasse cacos de garrafa e arames farpados misturados com o ar. Eu não consigo deter o meu cérebro, diminuir o seu ritmo. Sinto-me como uma locomotiva, uma velha locomotiva que se precipita nos trilhos e que não poderá jamais parar, porque o combústivel que lhe dá a sua potência vertiginosa, o seu carvão é o mundo. Tudo oque vejo, sinto, escuto se engolfa no forno do meu espírito e o impele e faz funcionar a pleno vapor. Tentar compreender é um suicídio social, e isso significa já não desfrutar a vida sem sentir-se, a contragosto, e ao mesmo tempo, uma ave de rapina e um abrutre que despedaça os seus objetivos de estudo."

Martin Page
"Como me tornei estúpido" p.60